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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua - As melhores imagens da sua História

Combate a incêndios em sentido figurado
"As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas..."
- Ruy Belo,Oh as casas as casas as casas


José Alfredo Almeida tem nas suas crónicas no Arrais tirado do esquecimento, e do pó do tempo, histórias exemplares de bombeiros. É de todo conveniente que as gerações novas conheçam o passado. Há uma tendência hoje em dia talvez mais forte do que nunca de passar uma esponja sobre o que nos antecede e correm o risco, os desprevenidos, de julgarem que estão a cada alvorada a assistir ao próprio acto da Criação.

Por essa razão sigo com prazer o seu exemplo, mas noutra área, a da habitação social, supondo que é possível encontrar entre bombeiros e habitação social um nexo que os aproxime mesmo sem recorrer ao fósforo.

Com prazer o faço, também em nome de uma amizade fundada em trabalhos conjuntos a partir de finais dos anos 90, início do sec. XXI, José Alfredo Almeida, então Vereador da Câmara Municipal da Régua, pelo meu lado, responsabilidades na Direcção do Norte do IGAPHE – Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado, entidade proprietária do Bairro das Alagoas, o Bairro Verde. O Bairro Verde tem muita história, boa e má, como todas as entidades humanas. Neste artigo serve de elo entre o anfitrião e o hóspede.

E logo aqui registo o que para muitos parecerá insólito: aquando da sua construção, o bairro das Alagoas era cobiçado pelas classes médias da Régua, que depois o rejeitaram. Imediatamente deste exemplo concreto se vê o modo caprichoso como o tempo procede e manipula os seus objectos. Primeiro, a fase idílica de bairro apetecido, depois, a sua veemente rejeição. Hoje, após a requalificação, com uma maior aceitação social do que a dos anos 90. Com os seus quês, todavia. Mas não posso nesta ocasião deixar de assinalar esta nota com relevo especial para o país interior votado ao abandono, a de que o Estado é essencial para poder haver políticas de território sem o que veremos esta contínua hemorragia em que se encontra há décadas, acabando por atingir todo o corpo nacional.


Actualmente, José Alfredo Almeida é dirigente dos Bombeiros da Régua. Eu, na situação de reforma. Ora, este aparentemente divergente estatuto pessoal, guio-o como pastor que, para poder conversar com outro pastor, conduz o rebanho a terreno comum.
Dou um primeiro passo: lembro que, à época dos nossos trabalhos conjuntos, a que me reporto, meados dos anos 90 em diante, havia um novo Governo. O IGAPHE, por estatuto, tinha como finalidade a gestão e alienação dos seus fogos, e chegara a um impasse. A mistura, nos mesmos condomínios, de fogos vendidos com não vendidos, a exígua percentagem de alienação, tornava quase impraticável a gestão do património, tanto mais que o Instituto, uma emanação do antigo Fundo de Fomento da Habitação, fora concebido, do ponto de vista dos recursos do seu quadro de pessoal, para as finalidades acima referidas: recolha das rendas, alienação dos fogos, obras de conservação. O apoio aos moradores e sua integração social nunca estiveram estatuídos. Existia, em suma, um património gigantesco, difícil de gerir, condomínios por constituir, uma dívida de rendas considerável, falta de pessoal que pudesse abarcar uma tão vasta propriedade. Em 1996, as direcções regionais e a própria presidência do Instituto haviam concluído, e diziam-no abertamente: há um impasse na gestão e é preciso tomar medidas sérias.

A direcção regional do Norte do IGAPHE foi pioneira nas novas formas de actuar, a então apelidada Operação Arco-Íris, que o novo Conselho Directivo gizou em traços largos, para romper o isolamento em que se achava face aos moradores e às instituições locais e poder gerir racionalmente o património construído. Muitas Câmaras Municipais queixavam-se de o Instituto ter para com elas uma atitude pouco amistosa. Algumas instituições diziam mais: que o Instituto era um muro.
Chegado aqui, faço um pequeno desvio, que é outro ponto de encontro com José Alfredo Almeida: as direcções regionais do IGAPHE, designadamente a do Norte, entenderam à época que deviam agir como “bombeiros” a apagar incêndios, em sentido figurado, no Património Habitacional. Tal como quando os bombeiros se queixam do desmazelo nos matos e floresta que potencia ignições constantes no tempo seco, assim, nós, no IGAPHE, nos abalançámos a atacar o desmazelo, quer dizer, a não adequação das finalidades do Instituto ao estado real do património e dos seus utentes. Na ausência de recursos em pessoal, o IGAPHE começou a valer-se de parcerias, nomeadamente com a Segurança Social (Projectos de Luta Contra a Pobreza) e outras entidades públicas ou semi-públicas, um pouco como quando populares e militares acorrem, além dos bombeiros, a uma emergência de fogo. Era, a traço grosso, a Operação Arco-Íris.

Se naquela altura José Alfredo Almeida não era bombeiro, queria sê-lo o IGAPHE a apagar os incêndios sociais que existiam nas Alagoas e em muitos outros locais da sua alçada. O tempo, esse prestidigitador, lança-nos pontes. Éramos nós bombeiros em sentido figurado, é-o agora José Alfredo Almeida em sentido literal. Entretanto o IGAPHE desapareceu na voragem das infindáveis reestruturações dos místicos do reformismo, uma subespécie da piromania e da fundição, podem crer: onde quer que vejam duas coisas, logo a querem apenas uma.


O que então se fez e pretendeu fazer acabou por esbarrar em visões limitadas do que devem ser os deveres do Estado, acabando por morrer. Na Régua, até certo ponto, deu-se excepção. Mercê de uma confluência de trabalhos e acasos, tornou-se possível obter um financiamento europeu, substancial, para o Bairro das Alagoas.

Convém registar que muito do que acontece, bom ou mau, longe de ser o resultado de proverbiais racionalidades, é o acaso que promove com a sua roleta. O Bairro das Alagoas ter-se transformado num caso particularmente difícil para o IGAPHE, um bairro de que o Instituto a certa altura perdeu o quase completo controlo, deu origem a trabalhos materiais e sociais de emergência, seja da Segurança Social, seja da Câmara Municipal, seja do próprio IGAPHE. Entre as várias iniciativas, uma delas foi a de um estudo monográfico encomendado, em parceria, pelo IGAPHE e pela Segurança Social (Vila Real), investigando e registando os trabalhos de campo em torno do bairro desde 1992 ("A Intervenção num Bairro Social – o caso do bairro das Alagoas", Porto, 2001, M.J. Afonso). Enfim, o Bairro pôde beneficiar de uma candidatura a fundos europeus (EFTA - Velhos Guetos, Novas Centralidades) que obteve vencimento, sendo um dos argumentos importantes para ter sido aprovada, a existência dessa monografia, a qual nem por sombras teve esse propósito. Um feliz acaso bem aproveitado.

Daqui saúdo e lembro os “bombeiros” sociais dos antigos Projectos de Luta Contra a Pobreza: Projecto Bairro verde – Um Projecto Esperança e o Projecto “Douro d’Oiro”, e com eles, a Drª. Maria José Tinoco, a Drª Eugénia Santos, a Drª. Maria José Lambéria, o animador sócio-cultural Sr. Fernando Ribeiro ou, do lado do IGAPHE, o entusiasmo e apoio do Dr. Branco Lima nos Intercâmbios Culturais e Desportivos inter-bairros, de jovens e crianças, sempre com o aval do Eng.º António Teles, então director da IGAPHE/Norte.

Perdoem-me os que aqui eventualmente não registe (esperando que alguém o possa fazer completando esta falha) mas, na verdade, tenho esperança de haver vontade de voltar a juntar numa evocação reguense muitos dos que partilharam essas experiências precursoras dos anos 90. Agora, que nos encontramos num tempo de empobrecimento oficial, ganha muita razão de ser tal evocação, quando não invocação.
Em recente visita às Alagoas, na companhia de um amigo, antigo colega do IGAPHE, e profundo conhecedor do Bairro, o eng. Diomar Santos, pareceu-nos lobrigar alguns sinais de alerta. Temos para nós, parafraseando António Sérgio, que podendo poupar na obra da pedra morta para poder gastar nas pedras vivas será sempre o mais avisado. A já extensa história do Bairro, pequena parcela de Portugal, isso mesmo mostra.

Com este sentido no imaterial e no tempo que, se os derruba, também cria laços e pontes, feche-se a crónica.
- Ricardo Lima, Porto, Julho de 2012

Clique nas imagens para ampliar. Sugestão de texto e imagens feita pelo Dr. José Alfredo Almeida (Jasa). Publicado também no jornal semanário regional "Arrais" em 26 de Julho de 2012. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2012. Permitida a copia, reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue só com a citação da origem/autores/créditos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vinho do Porto cura gripe H1N1?...

Do Lusowine em Quinta, Agosto 20, 2009 - 05:28: Quando a gripe pneumónica atingiu a região do Douro, há um século atrás, os bombeiros da Régua recorreram a um "saboroso" desinfectante: o vinho do Porto, e o método parece ter resultado porque nenhum deles foi contagiado com aquela doença.
A história foi contada por um antigo bombeiro da Régua, António Guedes, que na década de sessenta publicou no jornal "Arrais"(Régua) as suas recordações, e relembrada hoje à Agência Lusa pelo presidente da Federação Distrital dos Bombeiros de Vila Real, Alfredo Almeida**.

António Guedes tinha 24 anos quando a pandemia da gripe espanhola atingiu o Douro, na Primavera de 1918. Na altura, segundo Alfredo Almeida, os bombeiros da Régua desempenharam um papel "importante no apoio sanitário aos infectados e viveram, sem alarmismos, os momentos mais críticos deste nefasto acontecimento".

Através daquele jornal, António Guedes contou que a sua corporação montou "um improvisado hospital na casa onde hoje está o Asilo Vasques Osório, o qual ficou sob a direcção do médico da nossa corporação, o senhor doutor Luís António de Sousa". "Ainda não existiam ambulâncias na corporação, e éramos nós bombeiros, que com macas portáteis, íamos buscar os doentes a suas casas e os transportávamos para o hospital, sublinhou.

No seu relato, Guedes frisa o facto de nenhum dos bombeiros se ter contagiado com aquela terrível doença, certamente devido à desinfecção a que eram sujeitos sempre que chegam com qualquer doente. "E recordo-me muito bem que, dessa desinfecção, constava um 'medicamento', um 'antibiótico' muito agradável, que era o vinho do Porto.

O primeiro gole seria para bochechar e deitar fora e o restante conteúdo do cálice (bem grande, por sinal) era para ingerir", salientou.

Alfredo Almeida disse desconhecer quantas pessoas a pneumónica vitimou no concelho do Peso da Régua, mas, referiu que de Norte a Sul do país, "terá implicado perto de 150 mil casos mortais". "A ser verdade, e não temos razões para duvidar, os efeitos do vinho do Porto, como poderoso desinfectante, talvez pelo seu teor alcoólico, terá resultado em 1918 como uma boa medida de prevenção ao vírus da gripe", sublinhou.

O padre Artur Gomes tinha apenas dois anos quando a sua aldeia, Vale Salgueiro (Mirandela), foi atingida pela gripe pneumónica e na sua memória guarda as histórias de "pavor" contadas pelas pessoas mais antigas."

A minha mãe falava muitas vezes dos muitos familiares que morreram por causa daquela gripe. Os meus pais sobreviveram, mas os seus pais morreram", salientou.

Artur Gomes lembrou que a sua aldeia não tinha médicos ou bombeiros, por isso mesmo diz que as pessoas recorriam aos remédios caseiros, como o chá da flor do sabugueiro.

Alfredo Almeida referiu que, há um século atrás, "se viveram tempos de alguma improvisação". Hoje os bombeiros da Régua já têm um plano de contingência mas, segundo o responsável, continuam a ter uma garrafeira onde existem, claro está, muitas garrafas de vinho do Porto.

"Não há razões para haver pânico. Estamos preparados com máscaras ou desinfectantes, com os meios necessários para e se a crise sanitária nos atingir", sublinhou.
- Fonte: Expresso.pt - Lusowine.

... E bastantes garrafas de Porto na adega dos Bombeiros da Régua, complementando os "meios" necessários, acrescento eu :))))

**José Alfredo Almeida, além de escrever para jornais da região do Douro/Régua, é colaborador do blogue "Escritos do Douro":

  • Morada: Peso da Régua.
  • 1987 – Licenciatura em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
  • Exerce a actividade de Licenciado em Direito, Jurista no Gabinete Técnico Local do Município do Peso da Régua, professor na Escola Secundária do Peso da Régua e na Escola Secundária de Resende, vereador em regime de permanência no Município do Peso da Régua tendo a cargo os Pelouros das Obras Particulares e Urbanismo, Desporto e Juventude, Abastecimento Económico e Assuntos Jurídicos.
    Como actividade Cívica é desde 1998 – Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua; Desde 2005 – Vogal da Direcção da Associação da Região do Douro p/Apoio a Deficientes; Desde 2006 – Presidente da Direcção da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real.
  • José Alfredo Almeida no "Escritos do Douro" - Aqui!
  • José Alfredo Almeida no Google - Aqui!
  • Portal dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua - Aqui!

= Transcrito do blogue "ForEver PEMBA".

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A terceira vez…

Já cá tinha estado duas vezes, mas não passara de um olhar de relance, que apenas aguçara a minha curiosidade, alimentada pelas múltiplas referências aos Bombeiros da Régua que lera em crónicas de João de Araújo Correia e na monografia de Oliveira Soares.

A primeira vez foi há uns bons quinze anos, atraído pela vontade de conhecer a obra humanitária, movida pelo espírito colectivo de acção cívica, de voluntariado e de solidariedade, para lá da elegância da fachada dos anos trinta, desenhada pelo esquecido arquitecto Oliveira Ferreira, autor de obras notáveis, como os edifícios dos Fenianos e da Brasileira, no Porto, a Câmara de Gaia, o Sanatório de Valadares, o Hotel Astória, em Coimbra, o Monumento à Guerra Peninsular, em Lisboa, e outras. Mas dessa primeira vez, não passei da entrada. Um telefonema urgente desviou-me, contrafeito, para outras prioridades.

A segunda vez, recordo-me bem, foi há quase uma década, nas comemorações do 25 de Abril de 2003, em que tive o prazer de proferir uma conferência intitulada Douro: Património, Democracia e Desenvolvimento, a convite do Dr. José Alfredo Almeida, então vereador da Câmara Municipal de Peso da Régua. Dessa vez, senti vontade de percorrer o edifício e de saber mais sobre os bombeiros da Régua. Mas a circunstância era de festa cívica, com programa oficial a cumprir. A visita teria de ficar para momento mais oportuno.

Passaram quase dez anos. E eu terei passado centenas de vezes por aquele edifício, sempre a correr, com os problemas que me absorviam, nessa altura, todo o tempo de que dispunha. Além disso, a visita que desejava fazer à sede dos Bombeiros da Régua exigia vagar e recolhimento, pouco compatíveis com a vertigem do trabalho no Museu do Douro e as viagens quase diárias ao Porto, para cumprir as minhas obrigações docentes na Universidade do Porto.

Diz o povo que «à terceira é de vez». Foi esse adágio popular que me ocorreu, quando, no Verão passado, consegui, finalmente, fazer a visita desejada às instalações dos Bombeiros Voluntários da Régua, guiado pela amizade do Dr. José Alfredo Almeida, presidente dessa associação benemérita. Tínhamo-nos cruzado, casualmente, à saída do café, com a promessa de voltarmos a encontrar-nos no dia seguinte, com tempo para pormos em dia conversas sempre inacabadas, sobre os problemas do Douro, a Régua, as iniciativas culturais e, claro, a «sua» Associação de Bombeiros, a que tem dedicado uma devoção sem limites. Lá estávamos no dia a seguir. Estendeu-me um livro — É para si. Eram as Memórias dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, que publicara em 2011. Várias vezes me falara desse projecto, que concentrara o seu entusiasmo durante anos a fio, e eu podia antecipar o valor daquelas memórias, repletas de personalidades, acontecimentos, tenacidades e heroísmos. Afinal, o sentido fraterno de humanidade, corporizado numa instituição associativa de voluntariado, em que o lema «vida por vida» congrega a abnegação individual e a força dos laços de comunidade.

Ao folhear as Memórias dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, que entremeiam crónicas, muitas delas publicadas no jornal Arrais, e imagens da longa história da associação com mais de 130 anos, percebe-se que se trata de uma história vivida, essencial para a compreensão não apenas da instituição em que se centra mas também de momentos marcantes na vida da Régua e da região. Lá estão referências às cheias grandes, como a de 1909 ou a de 1962. Ou ao desastre de Caldas de Moledo, de 1904, ao incêndio de Lamego, em Junho de 1911, que destruiu vinte casas da Rua de Almacave, ao incêndio do Asilo Vasques Osório, em 1919, ao incêndio da Câmara da Régua em 1937, à tragédia de Rio Bom, em 1959, e tantos outros acontecimentos em que o lema «vida por vida» mobilizou os bombeiros da Régua. Já conhece a nossa sede? — perguntou-me. Não, ainda não conheço, mas gostava de conhecer — respondi ao Dr. José Alfredo. Se tiver tempo, podemos lá ir agora. E pegou-me pelo braço, já a sair para a Rua dos Camilos: fizemos obras, mas procurámos respeitar o património, temos um pequeno museu e uma biblioteca.

Pelo caminho, apreciámos o modesto edifício que serviu de primeiro quartel dos bombeiros da Régua, no Largo dos Aviadores.

Em pouco tempo, já estávamos a subir a escadaria da torre do edifício da actual sede, ao cimo da Avenida Antão de Carvalho. E passámos lá o resto da manhã, entrando em todas as salas, parando aqui e acolá, porque havia sempre um pormenor — um quadro, um livro, uma condecoração, uma velha mangueira, uma farda antiga, um recorte de jornal… — a evocar histórias, que o Dr. José Alfredo me ia contando. Não podia ter tido melhor cicerone na visita há muito prometida e sempre adiada.

Nessa manhã de Agosto, poucas pessoas se encontravam no edifício. Talvez por isso, à medida que o Dr. José Alfredo ia acompanhando a nossa observação de quadros, objectos e documentos com a evocação de nomes de bombeiros da Régua que fizeram a história secular da instituição, ressuscitassem na minha memória outros rostos e imagens, encarnando os mesmos ideais de heroísmo, abnegação e solidariedade. E rememorava fogos na Mantelinha, há umas boas três décadas, as labaredas altas subindo a encosta, desde a Fraga Ruiva ao cimo do serro, lambendo pinhais e matos, num Agosto quente, a aflição da gente de Covas, imprecações, súplicas a S. Domingos, uma correria desordenada no meio da noite, a aldeia sufocada de fumo. E o povo a subir em magotes pelos caminhos da serra, gritos roucos abafados pelos lenços molhados que confundiam os rostos, a seguir os bombeiros, só eles pareciam serenos naquele combate incerto contra as chamas. Provavelmente, seriam bombeiros do Pinhão ou de Sabrosa, mas isso pouco ou nada importava, se a memória os trazia de regresso àquelas salas da corporação da Régua, onde se acumulavam medalhas de outros heróis e heroísmos…

Afinal, a visita tão adiada ao quartel dos Bombeiros da Régua ultrapassou tudo o que podia imaginar. Bem me dissera o Dr. José Alfredo do seu empenho na preservação do património histórico da associação a que preside. Pude testemunhar o carinho devotado a cada elemento desse património já secular, tanto como a vontade de realizar novos projectos, como a organização da biblioteca, onde se guardam relíquias vindas da Biblioteca de Maximiano Lemos. Por tudo, bem-haja Dr. José Alfredo!

Porto, 28 de Novembro de 2012,
- Gaspar Martins Pereira, professor e historiador do Douro.








Clique  nas imagens para ampliar. Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Texto e imagens originais cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Também publicado no jornal regional semanário 'O ARRAIS', edição de 5 de Dezembro de 2012. Atualização em 6 de Dezembro de 2012. Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

MEMÓRIAS DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO PESO DA RÉGUA - Apresentação da obra

Nota do Autor

Dedico à memória dos fundadores e à 
dos bombeiros de todos os tempos, 
a razão da existência da AHBV do Peso da Régua

Ao editar este livro apenas pretendi reunir numa despretensiosa publicação os meus textos que escrevi sobre os Bombeiros da Régua, no jornal “O Arrais”, do Peso da Régua e, na internet, no blogue “Escritos do Douro”.

Não posso esconder o facto que eles se devem à minha vivência como Presidente da Direcção da Associação, desde 1998. Acreditando na crença e força dos valores do voluntariado e da mudança social estes escritos são parte da memória colectiva de uma instituição humanitária com 131 anos de existência. Melhor dito: de gerações de homens que colocaram os seus talentos de altruísmo, generosidade e coragem ao serviço da humanidade. A bem dizer foram esses heróis sem tempo e os seus exemplos de vida que escreveram muitas das páginas deste livro. Apenas servi de elo de ligação entre um presente angustiante e um passado labiríntico e quase obscuro.

Este livro é fruto do trabalho de pesquisa em bibliotecas, de consultas a álbuns de fotografias, de investigação de milhares documentos, de leitura dos livros de actas de reuniões e de muitas conversas com os bombeiros e os associados mais dedicados. Quando os testemunhos seguros rareavam salvou-me a imaginação e a paciência para reconstruir os traços descontínuos de factos mais remotos, já apagados na escuridão do tempo. Assim dito, até parece que tudo foi simples, o que não é verdade. Não isento de subjectividade pelo meu dever de zelar pelos valores do voluntariado e do associativismo e as actuais funções, este trabalho que considero incompleto, não priva o leitor de ter uma informação cativante, acessível e rigorosa.

Fica, assim, feita a vontade aos amigos que me convenceram a publicar este livro. Pensaram eles que tinha o húmus suficiente para servir novos desígnios.

Se mais objectivos ele não alcançar, espero que, pelo menos, contribua para despertar as gerações vindouras a conhecerem a "instituição tão civilizadora, humanitária e útil", como a distinguiram quando foi fundada em 1880, à qual me orgulho de fazer parte, e que sempre foi uma referência cultural e ética da sociedade reguense.

O livro é também o meu testemunho para a memória futura.

Peso da Régua, 01 de Setembro de 2011
José Alfredo Almeida


Prefácio
LABOR DE HISTORIADOR

A História interessa a um número crescente de cidadãos. Este interesse pela História radica os seus fundamentos na procura de respostas a perguntas emergentes: de onde viemos, quem somos, para onde vamos?
No seu trabalho, o fazedor de história utiliza a informação que recolhe, interpreta-a metodicamente e dá-lhe vida.
O herói desta história, laboriosamente construída pelo Dr. José Alfredo Almeida, é colectivo, revelado no palco dos acontecimentos, ou seja, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua. As personagens evocadas são sobretudo Bombeiros, com e sem farda, mas também ilustres reguenses.
Nas páginas deste livro estão reflectidos os valores dos Bombeiros Portugueses, através da evocação de algumas das figuras que marcaram decididamente a vida e a actividade dos bombeiros do Peso da Régua.
O autor, com uma prosa simples e despretensiosa, fala de alguns dos seus conterrâneos mais carismáticos, com uma indisfarçável paixão. Relata episódios, recorda acontecimentos e descreve memórias.
Faltará a este livro o rigor metodológico e a organização temporal dos textos, para que estes pudessem adquirir uma perspectiva contextualizada, no espaço e no tempo.
Porém, isto não retira mérito à missão a que o autor se aventurou. Nestas páginas adivinham-se centenas de horas de pesquisa e muito empenho pessoal, tendo por objectivo trazer ao conhecimento colectivo fragmentos da história de uma instituição intimamente ligada à comunidade que a criou.
Os bombeiros portugueses têm razões para se orgulhar do trabalho desenvolvido pelo Dr. José Alfredo Almeida, como dirigente, mas também como laborioso redactor da  História de uma das mais prestigiadas Associações Humanitárias de Bombeiros.
A qualquer historiador coloca-se sempre um problema - narrar como e porquê? Contar  empolgando, contar ensinando, contar interpretando ou contar, simplesmente, pelo prazer de contar. O autor deste livro escolheu precisamente esta última via. Relatar com prazer, com orgulho e com devoção, partilhando a emoção da descoberta e o fascínio da exaltação da memória.
Este é um texto que nos oxigena e que nos faz acreditar que os anos que dedicamos à causa dos Bombeiros de Portugal valem por si e pela riqueza humana que eles nos proporcionam.
Quando mais não fosse por isto, este livro já teria valido a pena ser dado à estampa.
Mas vale muito mais. É isso que desafio os leitores e leitoras a comprovarem por si próprios.
Resta um apelo ao autor: não fique por aqui. Siga com a missão de dar vida à memória dos Bombeiros da sua terra e, com ela, continue a contribuir para a dignificação dos Bombeiros Portugueses.

Duarte Caldeira
Presidente do Conselho Executivo da
Liga dos Bombeiros Portugueses  
Convite para 28 de Outubro de 2011
Autor JOSÉ ALFREDO ALMEIDA
MOSAICO DE PALAVRAS EDITORA, LDA
http://mosaico-de-palavras.pt/
RUA COMENDADOR ANTÓNIO AUGUSTO SILVA, 127 - R/C, 4435-191 RIO TINTO -PORTUGAL.
Telefone fixo - 224801761; Telefone móvel – 963678534; e-mail - geral@mosaicodepalavras.com

Obs. - Este evento insere-se no PROGRAMA GERAL do 41.º Congresso da LIGA DOS BOMBEIROS PORTUGUESES a realizar na cidade de Peso da Régua entre os dias 28 e 30 de Outubro de 2011.
(Clique com o 'rato-mouse' para ampliar e ler)

(Programa - http://issuu.com/gotael/docs/programa_do_congresso)
Clique  nas imagem acima para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Outubro de 2011.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ecos do 41.º Congresso Nacional dos Bombeiros em Peso da Régua

Clique na imagem para ampliar

Ecos do 41.º Congresso Nacional dos Bombeiros em Peso da Régua e da apresentação do livro “Memórias dos Bombeiros do Peso da Régua”, da autoria do Sr. Dr. José Alfredo Almeida, Presidente de Direcção da Associação.
Por José Silva Pinto 

Este evento histórico, realizado pela 2.ª vez nesta cidade do Peso da Régua, teve início com uma Saudação Solene, nos Paços do concelho (a que não pude participar por motivos familiares), teve o brilhantismo a que nós, os reguenses, estamos habituados, bem como quem nos visita, de longe ou de perto, em efemérides deste nível cultural e/ou artístico!

Estive presente, sim, na apresentação do livro “MEMÓRIAS DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS  DO PESO DA RÉGUA”, da autoria, como disse do Sr. Dr. José Alfredo Almeida, seu Presidente DDDM.º, no Salão Nobre da (nossa) Casa do Douro, dia 28 de outubro, p. p., com uma Sessão Muito Solene, 6.ª f. com início às 19 horas e com o Salão completamente cheio – o que, felizmente, vem sendo bom hábito em eventos deste género e semelhantes!
  1. Na mesa de Honra ou da Presidência, estavam presentes: o autor do referido livro Sr. Dr. José Alfredo Almeida, o Rev. Sr. Padre Vitor Melícias – digamos bem conhecido e apreciado por todo o País, pelas suas constantes e oportunas intervenções, à vontade, sem fronteiras, em questões de solidariedade, humanitárias e humanistas, sobretudo a favor de “grupos heterogéneos”, onde se apalpam carências de toda a ordem: material, moral e social – como “Apresentador” do livro em causa. Fê-lo com um à-vontade como se a obra fosse escrita por ele próprio e na qual tivesse posto uma boa parte da sua eloquente sabedoria, quase enciclopédica, e do seu grande amor, próprio da alma de um “Franciscano” (à maneira do seu Patrono e Doutrinador, São Francisco de Assis – o santo a quem muito incomoda a falta de paz, alimentação, saúde e mortes prematuras de todo o gênero). Disse ele:... Isto é o que se me oferece dizer (foram 25 minutos, que pareceram apenas 5...) que o leu depressa, de noite e de dia mas, acrescentou: “Hei-de voltar a lê-lo com vagar para cultivar o meu espírito e o meu coração”. Muito mais disse...para o que não tenho espaço!...
  2. Estiveram, ainda na Mesa: um simpático representante da Casa do Douro, o Sr. João Leonardo, que agradeceu a preferência do pedido daquele Salão Nobre, e, ainda o Sr. Vítor da Rocha que, suponho eu  o Editor de “A Mosaico de Palavras Editora”, de Rio Tinto, que foi o 1.º apresentador do livro magistralmente desenvolvido, com uma forma inovadora, para mim. Agradou-me imenso e, sem o ter lido, dei conta que já os meus lábios estavam a tocar e a saborear algo meloso! Muitíssimo bem dividido em sub-títulos e explicado quanto bastou, para se ter conhecimento da riqueza histórica e literária que nos deliciou! Estavam, ainda, na Mesa de Honra: o Sr. Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Dr. Duarte Caldeira, que conheço muito bem a individualidade da pessoa, pois aparece, muitas vezes, nas Tvs. A Mesa de Honra estava muito bem engalanada com um honroso grupo de 5 bombeiros, bem perfilados, e com a Bandeira ao centro, transportada pelo Chefe José Oliveira, bem conhecido e estimado por todos os reguenses – tal como o saudoso e amigo Sr. João (dos óculos)! Eventos como este, ou semelhante, devem repetir-se, pois são muito culturais, pedagógicos e educativos, principalmente para a nossa juventude e também para os adultos, pois, infelizmente, na Régua, há e tem havido muita falta de manifestações como esta e/ou semelhantes. Além disto, dão alegria, movimento e um tom festivo – no meio de outras situações menos alegres ou mesmo tristes, stressadas, pesadas demais...
  3. Reportando-me ao “fantástico”, mas realista e primoroso autor do livro, recordo que nasceu perto de nós. O seu berço está nas famosas e saudosas Caldas do Moledo; o meu está nas margens do rio Douro, no antigo “Cais-de_baixo” - a 2 ou 3 Kilms. de diferença. Foi Vereador da Câmara anterior, passando por diversos Pelouros, segundo as suas qualidades se iam evidenciando. Sobretudo, ama e dá a sua vida pela Régua, como sendo a sua Pátria! Parafraseio Camões: “Ditosa Pátria que tais filhos teve”! Tem sido um Presidente da Associação, a sobressair, pois construiu novas e grandiosas instalações nas traseiras, na rua Dr. José de Sousa, com perspectivas de futuro de mais de um século, e acaba de restaurar o Quartel Principal, exterior e interiormente, com uma proficiência invulgar, que o orgulha, orgulha os Bombeiros, a cidade, o concelho, o distrito e o País! Assim, é que nós queremos destes Homens que, citando Camões, uma vez mais, “Vão muito além da Taprobana”! Isto enriquece a Régua e dá jus de louvores a toda a gente que, à sua maneira contribuiu para tal orgulho da nossa Terra! Parabéns! Parabéns!!! Trata-se, ainda, de uma pessoa bemquista e respeitada por toda a Régua e Região, que o conhece melhor que eu, desde há longos anos. Possui, assim, todas as qualidades e dons para continuar a presidir à (nossa) briosa Associação dos Bombeiros Reguenses, e de quem podemos, queremos e temos, ainda muito que esperar. É Presidente da Federação das Associações congeneres do distrito de Vila Real e é elemento directivo a nível nacional, etc.!
  4. Na ocorrência desta história efeméride, fica bem dizer algo acerca da origem e história dos Bombeiros : - “Os Bombeiros são pessoas que têm por missão: extinguir os incêndios (com a “Bomba “, segundo a raíz do termo) e que, por extensão, acorrem a todos os acidentes que ponham em risco vidas e valores. (...) Foram os Hebreus e os Gregos que criaram os primeiros “vigias noturnos” encarregados de efetuar rondas, dar alarme em caso de fogo e combatê-lo. Na antiga Roma, também este uso foi conservado e desenvolvido, havendo os “Triunviri nocturni”, que asseguravam a polícia, durante a noite, contra os malfeitores e davam o alerta em caso de incêndio. - Em PORTUGAL, a “CARTA RÉGIA” de D. João I, datada de 1395, estabelecia os ”vigias noturnos” e definia, para a extinção de incêndio, as missões de carpinteiros machados. (…) A evolução do serviço conduziu, de acordo com a evolução da técnica, a maior presteza na chegada dos Bombeiros aos locais e a processos mais eficientes de extinção.(...) Existem “Batalhões de Sapadores” em várias cidades do País, e municipais em alguns municípios e em vilas, sendo a restante cobertura feita por “Associação de Bombeiros Voluntários” - que é o caso da Régua e das Associações presentes, de 28 a 30 de Outubro, nesta cidade, beijada pelas margens do seu Rui Douro (ou Dourado) tendo, com sentinela e contraforte a gigantesca Serra do Marão e, como seu Éden, as vinhas verdejantes, cheias de doce néctar!
  5. “Atualmente, também está cometida aos Bombeiros uma missão de “Prevenção”, traduzida em dois tipos: a) apreciação de projetos de construção e reconstrução de edifícios, e b) vistoria, verificando a correta execução do projeto, aprovado por que de direito, só após o parecer favorável dos serviços de Bombeiros competentes, (Esta função é do conhecimentyo geral, mas nunca é demais recordá-la para bem dos munícipes e bombeiros)!
  6. Foram figuras dominantes, entre outras, no Historial dos Bombeiros Portuguerses, o inspetor-geral CARLOS JOSÉ BARREIROS, que, nos meados do séc. XX, foi o organizador do serviços de incêndios na capital; GUILHERME GOMES FERNANDES, inspetor-geral de incêndios do Porto, e GUILHERME COSSUL, fundador da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, a primeira criada no País, etc... Nos últimos tempos de D. FERNANDO, se deve a aquisição da primeira escada “Magirus” hipomóvel e do primeiro material automóvel. (Nº. 4, 5 e 6: Enc. Verbo Séc. XXI, pág. 1276-7, vol. 4).
  7. Para terminar, as sete “virtudes capitais”: 1.ª:  “Vida por Vida” é o lema e tema de todas as Associações de Bombeiros, quer de Sapadores, quer Voluntários. Nesta 1.º, é de esperar que todos os “beneficiários desta missão/risco se compenetrassem/interiorizassem do que é “Dar uma Vida”, pelo próprio falecimento ou incapacidade, vitalícia ou temporária, por outra vida, porventura desconhecida, a qual poderá ficar vítima nos mesmos termos. - 2.ª: o (a) bombeiro (a) pode, na sua missão altruísta/humanitária, deixar uma viúva e órfão(s). 3.ª: a sua doação de vida pode correr o risco de não lhe dar o valor que merece... Mas, o SENHOR DA VIDA E DA MORTE DAR-LHE-Á O GALARDÃO DA VIDA ETERNA QUE MERECE. Disto, tenho – TENHAMOS – a certeza como eu escrever e vós lerdes !
Tenho pena de não poder continuar estas singelas reflexões. Mas o jornal tem as suas normas!... Que ainda na nossa vida, possamos ter e sentir as mesmas ALEGRIAS DESTA FESTA MEMORÁVEL!!!

Colaboração do Dr. José Alfredo Almeida. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Dezembro de 2011.  


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Carta para o José Alfredo Almeida

Meu caro Amigo José Alfredo Almeida:

Quero expressar-lhe o meu agradecimento, por me vir alimentando o meu ânimo com várias das suas mensagens, pois que, com a pouca mobilidade que já tenho, elas têm sido uma excelente maneira de passar o meu tempo sem grandes caturrices e até com alguma boa disposição.

As suas excelentes reportagens fotográficas conduzem-me muitas vezes ao passado e, de certo, têm-me dado uma aparência de rejuvenescido, criando-me a vontade de revisitar a região.

As imagens que me têm sido dadas a apreciar levam-me, a maior parte delas, a locais que eu bem conheci e a que me ligam pequenos pormenores de natureza vária. Uns lembram-me amigos da mocidade, outras pequenas aventuras de caça, outras, ainda, locais onde com outros rapazotes conversava, talvez aproveitando alguma pequena sombra  que nos refrescasse.

Da margem esquerda do nosso rio – que é, hoje, muito diferente do que era – lembro-me das noites tradicionais do arraial de 15 de Agosto, quando das festas do Socorro, porquanto era no areal que nele existia que assistíamos ao fogo de qualidade que era lançado e que nos proporcionava belos momentos, enquanto nos dessedentávamos e comíamos, gozando o fresco da noite.

Nesta mesma margem esquerda, tomávamos os nossos refrescantes banhos, como nunca mais tomei em parte alguma.

Longe da minha terra, amante dela, tornei-me, no entanto, muito mais exigente quanto à diversificação das suas fotografias. Talvez porque arrastado pela saudade dos tempos idos e talvez porque gostava de ter à mão e próximo do meu coração todo o Douro por onde andei “in illo tempore”, gostava de ver outro tipo de fotografias suas, talvez mais abrangentes, que cobrissem espaços específicos de toda a nossa região.

De resto, se a Régua é a princesa do Douro, o nosso Douro, todo ele, é o rei dos reis em todo o mundo.

Tenho a certeza de que o meu Amigo será capaz  de obter, com a sua arte e bom gosto, surpreendentes imagens, correspondendo às excelsas belezas que a nossa região oferece a todos os que as olham.

Sobre o Douro há já muitas e boas imagens, mas o meu Amigo é bem capaz de lhes acrescentar mais algumas, com o seu amor e arte.

Não contém esta minha proposta qualquer nota desfavorável quanto àquelas fotos que tenho apreciado e da sua criação, mas é um meu anseio natural, se quiser colaborante, ver-lhes alargado os horizontes, tornando pelas nossas mãos a região ainda mais conhecida.

Não quero, também deixar de lhe mostrar o meu apreço por vários mails que me tem mandado, uns dando-me nota de gente ilustre  que tive a oportunidade de conhecer e que fazem parte da história da Régua, mas outros, por conterem notas divertidas e mordazes, que tenho apreciado saborosamente.

Devo esclarece-lo que o meu Amigo preenche com outro meu Amigo o cardápio dos meus únicos fornecedores de mails. Por isto, daqui lhe mando o meu BEM HAJA!

Com um abraço.

- Abeilard Vilela, Junho de 2013

Clique na imagem para ampliar. Sugestão de texto e imagem do Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagem e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Junho de 2013.Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. É permitido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue desde que mencionados a origem/autores/créditos.    

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Uma instituição, um escritor e um dirigente

Nem todas as profissões/actividades geram consensos. Sempre de faca afiada para cortar em casacas alheias, de língua mais vocacionada para dizer mal do que bem, o nosso povo é implacável, parecendo mais feliz a valorizar os defeitos do que a exaltar as virtudes dos cidadãos incumbidos, cada qual no seu posto, de servir a comunidade.

Salvam-se os bombeiros! Em desespero de causa, os que necessitam do seu auxílio, por vezes acusam-nos de demorarem muito tempo a chegar, desabafo justificável em quem se rege por um relógio cujos ponteiros avançam ao ritmo da sua ansiedade. Há que compreender o desespero de quem vê os seus bens, por vezes tão suados e tão parcos, à mercê de labaredas assassinas ou de quem, em perigo de vida, aguarda a chegada de uma ambulância salvadora.

Falar da acção filantrópica e abnegada dos bombeiros é repetir palavras gastas. Eles sempre foram, e ainda são, os ídolos da pequenada, os heróis e o orgulho das populações. Com farda de gala parecem generais. De equipamento de trabalho, limpo à saída do quartel e em estado imprevisível no regresso, impõem-se sem pretensões, agem como super-homens. Não têm tempo de olhar para o lado. Todas as energias se concentram na resposta aos apelos que lhes chegam.

Não posso falar especificamente dos Bombeiros Voluntários da Régua. Conheço um pouco da sua história através da palavra escrita e imagino a sua dinâmica ao ver o “brilhozinho nos olhos” do Dr. José Alfredo Almeida quando deles fala. Também cheguei até eles conduzida pela mão segura e pelo espírito apaixonado do Dr. João de Araújo Correia cujas crónicas são manuais de cidadania, de defesa do património humano, cultural e identitário da região duriense.

Em Pátria Pequena, na crónica “Biblioteca Maximiano de Lemos”, o autor escreve, dividido entre o pessimismo e o optimismo: “Na Régua, é tradição que falhem todas as iniciativas. Falharam as touradas, as exposições fotográficas, o teatro de amadores, o orfeão, a parada agrícola, os desportos náuticos e até o carnaval inventado pelo Chico Pulga. Tudo falhou, menos a Associação dos Bombeiros Voluntários, fundada em 1880, e de ano para ano, mais florescente”.

É do mesmo escritor a avaliação da sua terra feita na citada colectânea de crónicas: “A Régua, donde quer que se aviste, é uma jóia. Mas, o que lhe dá realce é o estojo, isto é, a concha em que assenta, a bacia da Régua, com as suas montanhas, as suas colinas e o seu rio. Tocada de perto, sem escrínio à vista, desfaz-se-lhe o encanto. É uma jóia de chumbo ou, quando muito, de plaqué.”

Esta apreciação, feita em 1959, não perdeu actualidade. A exemplo do que vem acontecendo um pouco por este país, as cidades têm crescido anarquicamente, obedecendo a estereótipos urbanísticos para os quais o conceito de identidade é um anacronismo caturra. Vão resistindo à demolição, libertando-se da lei da morte, além de monumentos de interesse histórico, alguns edifícios de autor, com marcas de determinada época, contraponto risonho à construção de imóveis incaracterísticos, preço alto pago à explosão demográfica.

O edifício do quartel dos bombeiros da Régua é uma pedra preciosa incrustada em colar de pechisbeque. A sua frontaria merece uma paragem no passeio oposto para que possa ser devidamente gozada esteticamente. A harmonia cromática, aliada à elegância e ao bom gosto dos motivos escultóricos, singularizam este exemplar ímpar de arquitectura urbana não residencial.

Se o meu coração está preso, por razões familiares, logo afectivas, aos Bombeiros da Cruz Branca de Vila Real, a minha simpatia abrange, em abraço fraterno, todos quantos, no país e no mundo, assumem como prioridade das suas vidas a defesa de vidas outras.

Termino este sucinto testemunho com uma palavra de apreço pela acção desenvolvida em prol dos Voluntários da Régua pelo Dr. José Alfredo Almeida, enquanto entusiasta presidente da sua direcção e também como investigador incansável da história da Corporação, bem patente no seu livro Memórias dos Bombeiros Voluntários da Régua, exaustiva análise de factos e de figuras que lhes deram corpo.
- M. Hercília Agarez*.

* - M. Hercília Agarez (Vila Real, 1944). Professora e escritora. É autora do livro de crónicas A brincar que o digas (2001), do ensaio Miguel Torga, a força das raízes (2007), na área da ficção de  Histórias que o Povo Tece - Contos do Marão (2011) e do ensaio Dois Homens um só rosto - Temas Torguianos (2013). Desenvolve também uma notável acção cultural, dedicando-se em especial ao estudo de Camilo Castelo Branco, Miguel Torga, João de Araújo Correia e Luísa Dacosta.

Clique na imagem para ampliar. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2013. Texo e imagens cedido s pelo Dr. José Alfredo Almeida. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Uma carta do além… *

Canelas do Douro, 28 de Novembro de 2012

Exmo. Presidente dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua
Dr. José Alfredo Almeida
Ilustre Causídico,

Quando há quase três décadas fixei o meu eremitério em Canelas do Douro, perdi um pouco o ritmo de carteador compulsivo que fui ao longo de quase toda a minha vida. Porém, de quando em vez, ainda faço o gosto ao dedo.

Aproveito, desta feita, o 132º aniversário dos nossos Bombeiros para me dirigir a V. Excia. e na sua pessoa a todos os bombeiros da corporação, aos que ainda servem e defendem as populações e aos que mudaram de sítio, para eremitérios como este meu. Quando aqui chegaram meus filhos João e Camilo, muitas novidades me trouxeram da nova Régua com suas evoluções e dislates, e com especial atenção me contaram a fidelidade e modernização da nossa Associação como força viva e dinâmica, comandada por homens de pendor humanista, o que estou certo continuará a distingui-la da apatia comum.

De V. Excia. me contaram ser um jovem causídico muito dedicado à causa dos Bombeiros e à cultura. Senti-me de novo com o mesmo júbilo com que brincava com os ademanes da farda de meu pai que, como sabe, também foi bombeiro, no tempo do quartel no Largo da Chafarica. Dizem-me ainda que é V. Excia natural de Caldas do Moledo, terra natal de meu pai.

Não há muito tempo, encontrei no recreio das almas, um bombeiro do quadro de honra – o amigo Teles – que me cumprimentou com saudade e de imediato me falou dos nossos bombeiros. Foi ele que me explicou que V. Excia é filho do Sr. Almeida, carteiro de profissão, que muitas cartas me levou, Medreiros acima.

Percebi que V. Excia seria o inesquecível recém-nascido que um dia me entrou consultório adentro, em vias de perecer por rejeição do leite materno. Tudo se resolveu, felizmente, e sem o saber, até nessa hora providencial continuei a servir com o que tinha de mim, a causa e o futuro dos Bombeiros da Régua.

Bem-haja o senhor doutor pelo trabalho que tem feito, permita-me, pelo Bombeiro que tem sido! Sei que teve mesmo o rasgo e o bom senso de escrever memórias da história da corporação e dos seus servidores, bombeiros voluntários e soldados da paz, como então se dizia. Mergulho a alma na saudade ao lembrar-me dos bombeiros do meu tempo e de algumas personagens inesquecíveis – as barbas brancas do Afonso Soares, o José Ruço, o Riço, o João dos óculos, o anedótico Justino, que sempre que metia no seu discurso flores, falava de gipsófila, muito embora lhe chamasse “pisgatófilha”. Enfim…

Do muito que me lembro dos bombeiros, que sempre mereceram o meu zelo e até o meu sacrifício, não consigo esquecer o prazer com que preenchi páginas e páginas do nosso querido boletim “Vida por Vida”. Um exemplo de utilidade pública que cultivava o amor dos cidadãos pelos seus bombeiros, e ainda apontava aos homens primores e desprimores da nossa terra. Não quererá V. Excia. aceitar o desafio de fazer renascer o “Vida por Vida”? Certamente haverá hoje na Régua gente capaz de lhe preencher novas páginas. Seria notícia que muito me agradaria receber na minha tebaida de Canelas.

Oxalá continuem os Bombeiros, mais ou menos voluntários, mais ou menos modernizados, a ter no seu quartel local de palavra e reflexão, de convívio e dinâmica cultural. Afinal, se os bombeiros acodem a fogos e doentes, porque não haverão de acudir às maleitas da sua terra? Falo-lhe em maleitas porque também me chegam notícias tristes sobre as nossas Caldas do Moledo e a sua Estância Termal a agonizar, vítima da estrupícia dos homens… e ainda o desprezo pelos jardins e pelas árvores, que continuam a sofrer ataques arboricidas, ao que me dizem! Já que mataram o secular Jardim Alexandre Herculano, ao menos que salvem a Alameda.

Dizem-me ainda que tem agora a Régua uma Biblioteca Municipal, moderna e eficaz, com uma sala onde se veneram e guardam os livros com o meu obscuro nome! Pois aplaudam-se com todas as mãos os autores da ideia e da obra. Entristece-me ver fechada a velhinha biblioteca Maximiano de Lemos, que nasceu da pequena estante que existia ainda no quartel da Chafarica, e que foi a minha primeira biblioteca, na altura enorme e poderosa aos olhos de uma criança aprendiz de leituras.

Contam-me os meus filhos que o rio está prenhe de barcos, uns são hotéis flutuantes cheios de mundo, outros que são Rabelos a motor! Os primeiros são-me bem-vindos, pelo ar fresco que trazem a terra possuída pelo tranglomanglo; os segundos é que me parecem cozinhado de estrugido queimado… Bem que ficavam nas baías da Régua e do Pinhão os velhos monarcas Rabelos, mas sem motores, de vela ao vento e arrais ao leme, passeando devagarosamente turistas, como se fossem as “gôndolas” do Douro.

Chegam-me notícias de que a Casa do Douro está atacada por doença cancerígena prolongada, agonizando à espera da morte definitiva. Pobre Antão de Carvalho, pobres paladinos do Douro, que devem estar em sofrimento, mesmo depois da suposta paz que se seguiu à sua vida terrena.

Por seu lado, depois de conseguido o Museu do Douro por que tanto clamei, está agora em maus lençóis, sem destino à vista! Sinto-me recolhido em Canelas do Douro, sem inveja nenhuma de quem por aí anda, e protegido de desgostos que me seriam fatais ao espírito.

Meu caro amigo Dr. José Alfredo Almeida, sou obrigado a concluir que tanto na Régua como na Pátria, talvez só mesmo os Bombeiros continuem, pela sua atitude, exemplo e coragem, a merecer a minha contínua doação e sacrifício, mesmo que daqui deste meu eremitério espiritual.

Em dia de aniversário dos nossos Bombeiros, deixo-lhe, com redobrado sentimento, o que a alma me ditou há mais de meio século, e que acredito ainda seja o espelho dos Bombeiros da Régua e de todo o Portugal: «Um homem de luvas brancas, com machado de prata às ordens e a cabeça adornada por um elmo de ouro, não é um homem. É um semideus.»

Já vai longa esta minha conversa com V. Excia, por isso recorro à tábua dos “Signaes de Incêndio”, que era de meu pai, para dar as cinco badaladas finais com que a sineta manda parar.

Abraço todos os Bombeiros do Peso da Régua e de Portugal.

Creia-me, com admiração e estima,

João de Araújo Correia
Texto de autoria de *JOSÉ BRAGA AMARAL - escritor e jornalista. Clique  nas imagens para ampliar. Texto e imagens cedidos pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de imagens e texto de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Só é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

NOVO CICLO

Ao folhear O Arrais de 16 de Outubro de 2013, um leitor minimamente atento terá notado uma diferença considerável. A página 5, ou 6, não trazia notícias sobre os Bombeiros da Régua, como vinha sendo habitual, de há uns três anos a esta parte.

Percorrendo os periódicos locais, a presença noticiosa dos nossos Bombeiros não abunda. Anos há em que as suas notícias se reduzem à convocatória da Assembleia-Geral e, repetitivamente, à reportagem da celebração do seu aniversário. Em boa hora, o Dr. José Alfredo Almeida deu início e corpo continuado a uma página de memórias dos nossos Bombeiros. Podemos fazer alguma ideia de quanto trabalho, dedicação e pesquisa essa larga centena de páginas encerra. Para o efeito, criou um formato, um figurino, que se repetiu em cada publicação. É fácil que uma tão longa repetição tenha causado cansaço e tenha desmotivado alguns leitores para a respectiva leitura. Principalmente em tempo de tão acentuada mobilidade, não há nada a lastimar. Estaremos diante dum simples contratempo que levará a repensar, a inovar e a partir para outro tipo de comunicação mais próximo dos leitores.

É bom recordar, é bom ter presente o exemplo dos maiores, mas não deixa de ser bom valorizar o presente, acautelá-lo e preservá-lo. Os homens e mulheres do presente também têm inscritos no seu registo biográfico atos de bravura, desentendimentos que foram capazes de superar, vitórias que os conduziram ao progresso. Pela sua proximidade tornam-se mais palpáveis, mais reais, diremos. Afinal os heróis são de carne e osso iguais aos dos mais novos, sujeitos ao perigo e à morte, que souberam enfrentar, contornar e vencer pela força dum ideal: o voluntariado a favor de pessoas necessitadas. À medida que o tempo vai lançando a sua patine sobre os feitos gloriosos, estes vão dando entrada no mundo da mitologia. Passam a ser mitos, que já carecem da força mobilizadora dos que estão próximos. Precisam de ser reencarnados por gente do nosso tempo, por gente que se pode tocar e abraçar e que também é capaz de realizar atos de nobreza.

Com dedicação igual à que o Dr. José Alfredo Almeida pôs na organização das memórias dos Bombeiros para conhecimento público se poderá encontrar material atual, da actividade do dia-a-dia do Corpo Activo e da Fanfarra, capaz de manter e avivar os fortes laços afectivos que enlaçam os Bombeiros e a população do concelho e lhes granjeiam enorme prestígio em toda a Região e no País.

As celebrações festivas dos Bombeiros fazem pairar no ar um halo de felicidade, de entendimento, de perfeição. Porém, o calcorrear diário do caminho revela os atritos, os desencontros, talvez as desilusões, coisas que sempre houve e sempre haverá em qualquer associação.

Em 1975, pouco mais de um ano após a Revolução dos Cravos, por isso tempo política e socialmente quente, Carlos Cardoso era o comandante dos Bombeiros, José Melo era quarteleiro. Para o tempo, ambos de elevada importância na orgânica da Associação. O comandante era quem tudo decidia, talvez com maiores poderes práticos que o próprio presidente. Pelo quarteleiro passava toda a vida quotidiana do Quartel.

Certo dia, ao que consta, José Melo disse na cara de Carlos Cardoso que ele “era um fascista”, grande ofensa e grande desonra, na altura. Carlos Cardoso levou muito a mal. As posições extremaram-se ao ponto do “ou ele ou eu”, fazendo valer a importância que cada um sabia ter na instituição.

Ora, a ata da reunião da Assembleia-Geral de 10/7/1975 informa-nos que falou muita gente, mas não havia meio de se chegar a uma solução, até que surgiu um grupo de dezassete homens do Corpo Activo que propôs e se comprometeu a integrar uma comissão de entendimento, porque “não se queriam ver privados de nenhum daqueles homens. Eram demasiado importantes para ficarem sem qualquer um deles. Se isso viesse a acontecer, todos eles pediriam a demissão”. Esta comissão assumia o compromisso de conseguir o entendimento entre os dois desavindos, no prazo de trinta dias. As atas deixam ficar o assunto por aqui, mas o conflito veio a resolver-se, pois tanto o comandante como o quarteleiro eram pessoas demasiado nobres para não responderem positivamente ao ato de bravura dos homens do Corpo Activo.

Manuel Gouveia, que foi comandante dos Bombeiros, entrou para a Associação muito novo, subindo, degrau a degrau, até ao topo. Teve como mestre o comandante Carlos Cardoso. A estatura de Carlos Cardoso como comandante era incomparável e inquestionável, o que o levou a exercer o cargo, por vezes, acima dos órgãos eleitos para a Direcção. Manuel Gouveia entranhou esta importância do quadro de comandante. Recebeu muitos louvores, de variados organismos. Acumulou o cargo de quarteleiro. O seu valor como técnico era reconhecido por todos. Incontestável. Quando chegou ao fim do seu mandato, pretendeu ir além da legislação em vigor e da decisão da Direcção. Tinha chegado ao limite de idade. Tanto a legislação como a Direcção eram contrárias à sua continuação como comandante. Aqui, Manuel Gouveia tropeçou. Não conseguiu colaborar com os poderes instituídos na passagem do testemunho para gente mais jovem. Nisto não foi capaz de copiar o mestre.

Apenas dois casos quentes na vida dos nossos Bombeiros, airosa para todos, no primeiro caso, airosa para a instituição, no segundo caso, mas desagradável para o protagonista em causa.

Como estes, muitos mais casos se poderiam trazer à ponderação. O certo é que os Bombeiros têm sabido e têm sido capazes de superar estas situações de desentendimento, têm seguido em frente e têm conseguido progredir. Apesar de todas as dificuldades, apesar de todas as carências e apesar de todas as crises, os Bombeiros da Régua não se têm deixado vencer, sempre têm vencido, têm progredido, crescido e aí está uma corporação de grande valor material e humano. Esperamos que assim vão continuar a ser, no futuro.     
- Damas da Silva, Novembro de 2013.

Clique na imagem para ampliar. Imagem e texto cedidos para este blogue pelo Dr. José Alfredo Almeida (JASA). Edição de texto e imagens de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Novembro de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

BOMBEIROS DA RÉGUA - Uma “força invencível” com 130 anos de vida ao serviço do povo reguense

Simulacro na zona habitacional do Peso

O programa festivo deste 130 aniversário da AHBV do Peso da Régua começou no inicio da tarde de sábado, dia 27 de Novembro, com a realização de um simulacro de combate a uma habitação situada na zona histórica do Peso, na Rua de S. João, para a qual foram bombeiros chamados a intervir nesse “teatro de operações” para demonstrarem as suas capacidades, eficácia e prontidão no combate ao fogo numa velha e degrada habitação, seguindo-se o salvamento de bens e a vida de uma pessoa ferida. Assim, os bombeiros puderam testar a operacionalidade de vários equipamentos e das suas viaturas num lugar em que as condições de segurança são precárias face às ruas estreitas, com estacionamentos indevidos e ao estado de ruína da maior parte em que se encontram muitas casas.

Romagem aos Cemitérios

No dia 28 de Novembro, as cerimónias comemorativas centraram-se numa romagem do corpo activo, fanfarra e directores aos dois cemitérios da cidade (Godim e Peso), onde foi colocada em cada jazigo de bombeiros e directores ali sepultados uma flor em cada jazigo e fez-se uma guarda de honra junto dos jazigos dos Comandantes Manuel Maria de Magalhães e de Carlos Cardoso, do antigo presidente de direcção, Dr. Júlio Vilela e dos bombeiros falecidos em combates aos fogos, João Figueiredo e Afonso Monteiro.

Sessão Solene com discursos e Crachás de Ouro para bombeiros

A sessão solene que teve lugar no Salão Nobre “António José Rodrigues” foi dirigida pelo presidente da Assembleia-geral da Associação, dr. José Alberto Marques que proferiu um discurso cheio de mensagens. Começou por salientar que 130 anos, não são 130 dias, para reforçar a ideia de uma instituição que perdura no tempo apesar dos muitos momentos de dificuldade. Sorte, disse, tiveram os bombeiros reguenses por ter existido ao longo dos anos, gente com inteligência e com vontade, para fazer desta instituição aquilo que é e que vem sendo ao longo de 130 anos, assinalando numa metáfora que ela está construída na rocha. Neste contexto, referiu a presença na sala de cinco antigos presidentes da Direcção – Dr. Aires Querubim de Menezes, Dr. José Luís Soveral Montenegro, Prof. Fernando de Almeida, José Manuel Moura e Eduardo Sebastião - a quem dirigiu os seus agradecimentos, estendidos a todos aqueles que fizeram da Associação aniversariante aquela a quem os reguenses mais amam. Não deixou depois de referir alguns presentes e alguns ausentes, em especial o dr. Jorge Almeida, por costume sempre presente neste acto, mas desta vez ausente por motivos de saúde. Reforçando a sua mensagem para a Associação, parafraseou Aquilo Ribeiro, quando este escreveu “Alcança quem não cansa”, para desejar que por parte dos Bombeiros da Régua, se “não canse, para se alcançar”.

De seguida o presidente da Direcção da Associação, dr. José Alfredo Almeida, que antes de mais relembrou os 27 homens que liderados pelo Comandante Manuel Maria de Magalhães, no dia 28 de Novembro de 1880, se uniram para dar identidade e ser à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, salientando que eles merecem o nosso respeito e admiração pelo que hoje são e valem os Bombeiros da Régua, depois de lembrar os antigos presidentes de Câmara da Régua que mais ajudaram a missão dos bombeiros - Dr. Mário Bernardes Pereira (1930), Dr. Fernando Bandeira (1955) e o Prof. Renato Aguiar (1980) e agradeceu e reconheceu também o apoio prestado pelo actual executivo, que foi essencial a candidatura para o financiamento das obras de requalificação da sede da associação e vai significativo para a próxima organização do 41º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses, cuja responsabilidade cabe aos bombeiros da Régua. Agradeceu e destacou ainda, os beneméritos Eurico Cardoso, Eurico Patrício e empresário Manuel Rocha Macedo, recentemente falecido no Brasil, que durante o ano em curso muito ajudaram a Associação que dirige. E, acabou o seu discurso com uma citação do escritor João de Araújo Correia que era um grande admirador dos bombeiros da sua terra, em que num dos aniversários da associação lhe escreveu este enorme elogio: “Felicito a nobilíssima corporação por mais um ano de vida. Cumpro este dever como se cumprisse um voto religioso. Quando tudo falece, pela palavra tudo, a longa vida dos nossos bombeiros é um sinal de força invencível. Comparo-a à vida de uma árvore, que tenha escapado à fúria dos temporais para se prolongar como símbolo de eternidade.
O Dr. Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, que agraciou os Chefes António Silva e António Dias, com o Crachá de Ouro daquela Liga, falou para defender que o contexto de desenvolvimento dos bombeiros e da protecção por eles prestada, deve basear-se num triângulo em que se unem os Bombeiros com as suas Associações, o Poder Central e o Poder Autárquico, na manutenção do que chamou de um património público incomensurável, uma escola cívica, numa lógica de parceria em que cada qual afirma os seus valores.

O presidente da Câmara Municipal do Peso da Régua, engº. Nuno Gonçalves, usou da palavra dizendo que a presença do presidente da Liga era em si mesma uma prova do relevo que os Bombeiros reguenses merecem a nível nacional, um estatuto conquistado segundo ele, ao longo dos anos pelo trabalho que em redor dela se soube desenvolver. Devemos pois segundo o edil, reconhecer mais do que agradecer, todo o trabalho que dirigentes e corpo activo levam ali a efeito para usufruto de toda a comunidade. Fez depois notar Nuno Gonçalves, que se em anos anteriores ali apelou à formação enquanto algo fundamental, agora podia dizer ter sido essa um aposta ganha. Aludindo a mais que centenária Associação Humanitária aniversariante, disse ser ela a mais importante de um concelho que tem muitas outras importantes e boas. Acerca do ano que se abre, garantiu ser um ano importante dadas as obras que se iniciarão e o 41.º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses que se realizará na cidade. Não deixou contudo de fazer notar os tempos orçamentalmente difíceis que se vivem a nível geral, garantindo no entanto a continuidade do apoio da sua autarquia aos bombeiros.

Esta sessão solene foi encerrada pelo Governador Civil do Distrito de Vila Real, dr. Alexandre Chaves, que mais uma vez manifestou o seu apreço pelos bombeiros em geral, e pelos da Régua em particular, merecedores de respeito e admiração, conforme atesta o facto de terem 130 anos de vida.

Durante a cerimónia foram agraciados com o crachá de Ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses, os Chefes António Silva (com 41 anos de serviço) e António Manuel Dias (37 anos de serviço) e ainda medalha de mérito para o bombeiro motorista Manuel Silva Dias (20 anos) e para o dr. José Alberto Marques (10 anos) e José Vasques de Sousa (10 anos).
Num gesto simbólico, mas de grande significado para a história dos bombeiros da Régua, a cerimónia terminou com a assinatura do Contrato de Empreitada para as obras de beneficiação do Quartel Delfim Ferreira, no valor de 300 mil euros, pelo presidente da Direcção e pelo representante da empresa construtora vencedora "Teixeira, Pinto & Soares", de Amarante, as quais devem iniciar-se até ao fim deste ano.
- Peso da Régua, Dezembro de 2010. Texto e imagens  de J A Almeida* para Escritos do Douro 2010. Clique nas imagens acima para ampliar.
  • *José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também crónicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária, fatos do passado da bela cidade de Peso da Régua de onde é natural e de figuras marcantes do Douro.