quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Nosso Dr. Zagalo

 Por João de Araújo Correia
  
  Sempre supus que todos os Zagalos fossem de Ovar ou procedentes de Ovar. Com esta suposição, metida no toutiço, perguntei ao Dr. António Maria do Couto Zagalo, médico lamecense, falecido em 22 de Dezembro de 1975, se os Zagalos de Lamego tinham que ver com os de Ovar.

- Sim, senhor... Descendem do Dr. António Pereira Zagalo, que veio de Ovar exercer clínica em Lamego.

Fiquei satisfeito com esta informação. O meu informador, neto paterno do Dr. Bernardino Zagalo, bateu certo. Não fantasiou a hierarquia...

Vim a apurar, com mais precisão, que o Dr. Bernardino Mesquita do Couto Zagalo, natural de Lamego e reguense adoptivo, era neto paterno de António Pereira Zagalo, nascido em Ovar em 1789, doutorado em Coimbra em 1818 e falecido em Lamego no dia 21 de Janeiro de 1863. À parte o exercício clínico, dedicou-se às Musas com tanta felicidade, que lhe deram voga.

É crível que o neto, o nosso Dr. Zagalo, tenha herdado do avô a vocação literária. Bernardino Zagalo obedeceu a esta vocação como contista, cronista, romancista e autor de uma peça de teatro intitulada O Heitorzinho. Ser escritor na Régua, sem emulação literária, própria dos grandes centros, foi meter em África uma lança de papel.
Tornemos a Ovar e aos Zagalos de Ovar. Sabe-se que Júlio Dinis, nascido no Porto a 14 de Novembro de 1839, teve em Ovar uma tia paterna, D. Rosa Zagalo Gomes Coelho. Irmã de seu pai, usou o apelido Zagalo, ao passo que o irmão, pai de Júlio Dinis, o não usou. Seria também Zagalo ou não seria Zagalo?

Não é demasiada fantasia imaginar que o nosso Dr. Zagalo, nascido em Lamego, a 27 de Agosto de 1851, teve seu parentesco, de sangue ou por afinidade, com o inocente Júlio Dinis. Ele, que não foi nada inocente...Foi uma escie de sátiro. Mas, se lhe giraram no sangue, demasiado rubro, alguns pálidos glóbulos dionisianos, terão estes influído na sua vis literária? Sa­be-se lá...

O que toda a gente sabe, ou deve saber, é que o Dr. Zagalo foi um apaixonado amigo da sua terra adoptiva. Amou-a como sonhador e sacrificou-se por ela como homem enérgico. Deu-lhe muita canseira a criação e manutenção daquilo a que chamou Parada Agcola.

A Régua deve-lhe homenagem.

Mas, talvez nem saiba que o Dr. Zagalo faleceu aqui, no Largo dos Aviadores, a 7 de Maio de 1923, e que foi sepultado no cemitério de Cambres.
Natural de Lamego, reguense adoptivo, foi sepultado no lindo cemitério de Portelo de Cambres. Porquê? Teria ali jazigo? Seria: dali natural sua primeira mulher, D. Hortênsia Teixeira Leomil? É o que falta apurar.

Notas:
1- Esta crónica encontra-se publicada no jornal O Arrais (1979), assinada com o pseudónimo de Joaquim Pires.
2- A fotografia do Dr. Bernardino Zagalo está publicada na revista Ilustração Portuguesa, de 1916. Os dois livros do Dr. Bernardino Zagalo, cujas capas aqui se mostram, pertencem a uma biblioteca particular. 
Colaboração de J. A. Almeida para "Escritos do Douro" em Fevereiro de 2011. Clique nas imagens acima para ampliar.

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