segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cartas de longe: Artistas do Douro e da Régua

FERNANDO GUICHARD - Começou a pintar aos seis anos, quase por obrigação, ainda que tivesse gosto e o talento tivesse despontado muito cedo.

A avó e a mãe, que também pintavam, descobriram-lhe o jeito e insistiram para que o aperfeiçoasse desde muito cedo. "Quando se nasce com um dom, ele vem sempre ao de cima", diz.

Anos mais tarde, Fernando Guichard foi estudar para a faculdade de Belas-Artes do Porto, onde começou por freqüentar o curso de pintura, com Júlio Resende como professor. Algum tempo depois, passou para o curso de escultura e foi aluno de outro grande nome das artes plásticas:o escultor Barata-Feyo.

A meio da vida universitária, Fernando Guichard foi chamado para a tropa e durante quatro anos a sua vida foi na Guiné, longe das aguarelas e dos pincéis. Quando regressou, decidiu deixar a faculdade: "cheguei à conclusão que não andava a aprender nada!", afirma.

Na época, a banca oferecia postos de trabalho bem remunerados e com uma grande estabilidade, por isso tornou-se a melhor opção profissional para Fernando Guichard, ainda que essa não fosse a sua paixão. "Nunca tive afinidade nenhuma com a banca, até porque sempre disse que nunca na vida haveria de estar sentado a uma secretária", conta Guichard. Por isso, ao chegar a casa depois de um dia de trabalho no banco, os pincéis e as aguarelas foram sempre a companhia preferida.
A aguarela é a técnica mais usada por Guichard, mas, de vez em quando, também utiliza tinta-da-China. "Prefiro pintar com aguarela porque é uma técnica que exige mais rapidez, o que se começar tem de se acabar o mais depressa possível, não há interrupções nem pode haver erros", explica o pintor. E como sempre foi "um apressado" e nunca gostou de ficar muito tempo a trabalhar no mesmo quadro, encontrou na aguarela a técnica ideal para a sua forma de ser e de estar.

A primeira exposição aconteceu em 1985, quando Fernando Guichard integrou a III Bienal de Pintura, que teve lugar na Régua e foi promovida pela Associação Cultural do Alto Douro. A partir de então, seguiu-se uma série de exposições individuais....No total, já foram cerca de meia centena de exposições realizadas em todo o país e em Espanha, Espinho, Ovar, Guimarães, Covilhã, Viseu, Chaves, Mirandela, Bragança, Zamora, Lisboa e Tomar são apenas algumas das cidades que já tiveram o privilégio de apresentar as aguarelas deste artista nascido na Régua.

Para Fernado Guichard a pintura é uma forma de ocupar o tempo, mas acima de tudo, uma grande paixão. Agora, que está reformado da profissão de bancário, tem o tempo todo para estar entre os pincéis e as aguarelas, inspirado pela música clássica, na tranquilidade do seu atelier improvisado em casa. A paisagem urbana é o que mais cativa Fernando Guichard: "sou um fanático pelo património e gosto muito de o pintar. É pena que o património da região esteja tão degradado". Por isso, Fernando Guichard acredita que os seus quadros podem ser um grito de alerta para as pessoas no sentido da necessidade de conservar e valorizar o património.

Lamego, Guimarães e Viseu são as cidades preferidas para as suas aguarelas, mas por todo o paísmuitas vilas e cidades apaixonaram Fernando Guichard e foram retratadas por ele. Onde houver madeira, ferro e granito, há de certeza motivo para pintar mais uma aguarela, porque são os materiais que Fernando Guichard mais gosta de retratar.
No caso da Régua, o que inspira Fernando Guichard não é propriamente o património arquitectónico, mas antes a paisagem magnífica que envolve a cidade: "o património aqui é muito pobre, mas há o rio Douro e os socalcos, que são lindíssimos", explica. Mesmo assim, garante que já pintou a Régua em todas as suas formas e vista de todos os ângulos possíveis. Para o artista ha três lugares de onde a Régua é mais bonita: de Loureiro, de Valdigem e da Serra das Meadas.

Mas apesar de tudo, Fernando Guichard diz que gosta da sua cidade e que não se imagina noutro lugar.
- Villa Regula de Março de 2001, texto de D. Olga Magalhães.

DE VILA SECA DE POIARES, ACÁCIO CARVALHAIS E SUA ARTE - Acácio Carvalhais dedica-se a rotular garrafas de Vinho do Porto em estanho, uma arte que já levou bem longe seu nome.

De todos os cantos do mundo chegam encomendas à sua oficina, em Vila Seca de Poiares, e em todo o lado é conhecida esta forma original e única de rotular garrafas. Mais uma imagem da nossa terra, graças à ciatividade e ao empenho de Acácio Carvalhais.

As garrafas rotuladas em estanho nasceram na Régua e aqui continua a ser o único lugar onde elas são feitas. Acácio Carvalhais foi o percursor desta forma de arte e o seu nome e o seu talento já passaram para além das fronteiras do país. Diz que não faz publicidade, mas que os clientes lhe aparecem, não sabe como, vindos de todos os cantos do mundo, à procura das típicas garrafas.

Em tempos, Acácio Carvalhais dedicava-se a todo o tipo de artesanato, que foi a atividade que desde sempre o encantou. Um dia, devido a problemas de saúde, o médico avisou-o que era melhor parar com os grandes esforços e então viu-se obrigado a desistir da profissão. Mas como nunca gostou de estar parado e precisava de sustento, depressa o artesão procurou uma forma diferente de trabalhar e foi então que surgiu a idéia de rotular garrafas de Vinho do Porto em estanho.

O cliente leva as garrafas e Acácio Carvalhais rotula-as e fecha-as. Os rótulos podem ter o aspecto e as imagens que a imaginação deste artesão permitir.

Depois, é ele próprio que desenha e que faz a gravura no estanho, artesanalmente. Barcos rabelos, cachos de uvas, e até os emblemas dos grandes clubes nacionais servem de motivo para ilustrar estes rótulos.

Cada garrafa rotulada em estanho custa ao cliente cerca de Esc.: 1.700$00, mas o preço pode variar conforme as quantidades encomendadas.

Acácio Carvalhais afirma que o negócio lhe rende porque não tem mãos a medir, trabalha o dia inteiro e, muitas vezes, também pela noite dentro. "O artesanato dá muito bem para viver quando as pessoas têm gosto pelo trabalho e fazem as coisas bem feitas, como deve ser", afirma o artesão. Por isso não acredita quando houve outros artesãos queixarem-se da vida difícil que levam e das dificuldades econômicas. E, apesar de ter apostado nesta arte por necessidade, tomou-lhe o gosto e apaixonou-se.

A oficina de Acácio Carvalhais, à entrada de Vila Seca de Poiares, está transformada numa verdadeira empresa familiar. A mulher e a filha entregaram-se também a este ofício até porque, de outro modo, era impossível dar conta de todas as encomendas. Se a filha optar, entretanto, por outra atividade, talvez a arte dos rótulos de estanho fique por aqui.

Acácio Carvalhais já lecionou dois cursos em S. João da Pesqueira, mas diz que nenhum dos seus alunos deu continuidade ao que aprendeu, apesar de muitos terem demonstrado bastante talento. "O problema é que toda a gente quer um emprego, mas ninguém gosta de trabalhar", afirma o artesão. E nesta arte, a capacidade de trabalho e a paciência são condições indispensáveis, segundo este artesão.

Acácio Carvalhais diz que há dez anos que anda a tentar inserir a sua empresa na Rota do Vinho do Porto, mas até agora não conseguiu nada. Mas, apesar de tudo, já conseguiu fazer com que o seu nome, a sua arte e a nossa terra viajem por todo o mundo nas garrafas de Vinho do Porto.
- Villa Régula de Setembro de 1999, texto de D. Olga Magalhães.
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(Transferência de arquivos do sitio "Régua" que será desativado em breve)

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